Um novo relatório financeiro trouxe à tona a complexa realidade das contas do Cruzeiro SAF, estimando que o clube mineiro pode levar até 21 anos para quitar sua dívida total, que alcançou cerca de R$ 1,2 bilhão (ou R$ 1,3 bilhão, dependendo da metodologia de balanço de 2024). O estudo também acende um alerta sobre o ritmo de crescimento das receitas, que não tem acompanhado o aumento das despesas.
O balanço financeiro de 2024, divulgado pelo clube, revelou um déficit de R$ 170 milhões no último exercício. A dívida total do clube aumentou em relação a 2023, com a maior parte (aproximadamente R$ 975 milhões) classificada como de longo prazo.
Detalhes do Endividamento e o Alerta Sobre Receitas
A projeção de quitação em até 21 anos, baseada em análises de especialistas como o economista Cesar Grafietti e relatórios como o “Relatório Convocados”, leva em conta o atual ritmo de geração de receitas e o peso do passivo. Embora o Cruzeiro tenha apresentado crescimento de receitas em 2024, impulsionado por bilheteria e programa de sócio-torcedor, as despesas cresceram em um ritmo ainda mais acelerado.
Um dos pontos de maior atenção é o aumento dos gastos com pessoal, que saltaram de R$ 131 milhões em 2023 para R$ 221 milhões em 2024, um crescimento de impressionantes 69%. Esse aumento substancial é atribuído, em parte, à mudança na gestão da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), com a chegada de Pedro Lourenço em abril de 2023, que investiu na montagem de um elenco mais competitivo.
O relatório destaca que, apesar de o Cruzeiro ter conseguido superar antecipadamente a meta de R$ 350 milhões em receitas líquidas prevista no acordo de acionistas até 2027 (atingindo esse valor já com os resultados combinados de 2023 e 2024), o crescimento dos custos operacionais compromete a capacidade de gerar superávits que poderiam acelerar a redução da dívida.
O Contexto da Recuperação Judicial e a Nova Gestão
O Cruzeiro ainda lida com os compromissos da Recuperação Judicial da associação civil, com pagamentos sendo realizados conforme o plano homologado em 2023. A gestão de Pedro Lourenço tem o desafio de equilibrar a ambição esportiva com a rigorosa necessidade de saneamento financeiro. A dívida inclui tanto o passivo da associação, herdado antes da criação da SAF, quanto novos investimentos feitos na era da SAF.
A situação do Cruzeiro reflete um desafio comum a muitos clubes brasileiros que buscam a reestruturação via SAF: como conciliar a necessidade de investir para ser competitivo em campo com a urgência de reduzir passivos históricos e gerar sustentabilidade financeira a longo prazo. A projeção de mais de duas décadas para a quitação total da dívida reforça que o caminho da Raposa para a saúde financeira plena ainda será longo e exigirá gestão rigorosa e fontes de receita diversificadas e consistentes.