O aguardado confronto entre Botafogo e Paris Saint-Germain pela Copa do Mundo de Clubes não acontece apenas dentro das quatro linhas. Fora de campo, o jogo de hoje marca um novo capítulo na outrora turbulenta, e agora pacificada, relação entre os proprietários dos dois clubes: o americano John Textor, acionista majoritário da SAF do Botafogo, e o catari Nasser Al-Khelaïfi, presidente do PSG e figura central do investimento da Qatar Sports Investments (QSI).
A rivalidade entre os dois dirigentes, que chegou a esquentar os bastidores do futebol francês, deu lugar a um “momento de paz” e até mesmo a uma colaboração, surpreendendo muitos no cenário esportivo global.
A Origem do Conflito: Direitos de TV e Acusações
A relação conflituosa entre John Textor e Nasser Al-Khelaïfi não é novidade e ganhou notoriedade a partir de 2024, especialmente em discussões acaloradas sobre os direitos de transmissão do Campeonato Francês. Textor, que também é dono do Lyon, criticava abertamente o modelo de financiamento do PSG, que ele considerava “ilegal” e prejudicial à competitividade da Ligue 1, devido ao apoio estatal do Catar.
O embate atingiu seu ponto mais alto em uma reunião de presidentes de clubes franceses, em julho de 2024. Áudios vazados revelaram uma troca de farpas intensa, onde Al-Khelaïfi teria mandado Textor “calar a boca”, chamando-o de “caubói que veio não sei de onde”. Textor, em resposta irônica, chegou a comparecer a reuniões usando um chapéu de caubói, e também disparou publicamente que o PSG era um “time pequeno” quando os clubes foram sorteados no mesmo grupo do Mundial de Clubes.
As Trocas de Farpa e a Polarização
A tensão entre os dois se estendeu a mensagens privadas e declarações públicas. Textor acusava Al-Khelaïfi de monopolizar o poder e não respeitar opiniões divergentes na liga francesa. Por sua vez, Al-Khelaïfi rebatia as críticas de Textor sobre gastos e o acusava de não entender de futebol e de como gerir um clube. A rivalidade personificava o choque entre o modelo de investimento estatal no futebol (PSG) e o modelo de multipropriedade e investimento privado de Textor (Botafogo, Lyon, Crystal Palace, RWD Molenbeek).
A Paz Selada e a Colaboração Surpreendente
Contrariando as expectativas de uma rivalidade eterna, o clima entre os dois dirigentes começou a arrefecer nos últimos meses. O ponto crucial para a “paz” foi um convite inusitado: Al-Khelaïfi convidou John Textor para assistir à semifinal da UEFA Champions League entre PSG e Arsenal, no camarote do Parque dos Príncipes.
Textor publicou fotos ao lado de Al-Khelaïfi, celebrando o encontro e afirmando que estavam “feliz por trabalhar novamente com NAK (Nasser Al-Khelafi), nesse momento crítico, nos desafios e oportunidades para o futebol francês”. Aparentemente, a necessidade de unir forças para lidar com desafios financeiros e de governança no futebol francês, especialmente com a situação do Lyon, forçou um pragmático acordo entre os dois. Al-Khelaïfi, como presidente da Associação Europeia de Clubes (ECA), inclusive, teria ativado suas redes para auxiliar Textor em questões ligadas à multipropriedade de clubes.
O reencontro no Mundial de Clubes, portanto, acontece sob uma nova perspectiva. As intrigas parecem ter dado lugar a um reconhecimento mútuo de interesses e à busca por soluções conjuntas, mostrando que, no futebol, mesmo os mais acirrados confrontos podem evoluir para uma inesperada harmonia.