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Agronejo: Como o Sertanejo Virou Braço Cultural do Agronegócio e Ferramenta da Direita

O fenômeno musical conhecido como “Agronejo” consolidou-se como um braço cultural e uma poderosa máquina de propaganda do agronegócio, sendo amplamente utilizado por movimentos e figuras da direita brasileira. A fusão do sertanejo tradicional com elementos de pop, eletrônico e funk, embalada por letras que exaltam a vida no campo, a ostentação e os valores do setor agropecuário, criou uma identidade sonora e visual que ressoa profundamente com uma parcela significativa da sociedade e da política.

A Ascensão do Agronejo: Do Campo à Ostentação

O Agronejo surge como uma evolução do sertanejo universitário, que já havia modernizado o gênero. Contudo, essa nova vertente, impulsionada por artistas como Ana Castela, Luan Pereira, Us Agroboy e Léo & Raphael, leva a narrativa para um novo patamar. O termo “agronejo” surgiu inicialmente como uma brincadeira, mas rapidamente se firmou para descrever um estilo que celebra o “agro tech e pop”, misturando batidas eletrônicas e referências urbanas com a essência rural.

As letras são explícitas em sua exaltação ao agronegócio: falam de trabalho duro, superação, riqueza e a modernização do campo. Canções como “O Agro Nunca Para” (Us Agroboy) e “Os Menino da Pecuária” (Léo & Raphael) celebram fazendas grandiosas, gado, tratores e o dinheiro vindo da soja, mostrando uma “ostentação” que se tornou marca registrada. O estilo estético, com chapéus, botas e fivelas, também é parte intrínseca dessa cultura.

O Sertanejo como Braço Cultural do Agronegócio

A ligação entre a música sertaneja e o agronegócio não é nova, remontando aos rodeios e às festas agropecuárias, que sempre foram palcos fundamentais para a carreira dos artistas. No entanto, o Agronejo intensificou essa simbiose, atuando como um veículo eficaz para disseminar a imagem de uma indústria que alimenta o país e representa o sucesso econômico.

Produtoras musicais e o próprio setor agropecuário entenderam que o gênero funciona como um meio de comunicação direto com seu público-alvo, reforçando uma identidade e um estilo de vida. O videoclipe de “Os Menino da Pecuária”, por exemplo, exibia dados e fatos sobre o agronegócio, transformando a música em peça de propaganda.

A Apropriação Política pela Direita

A aliança entre o agronegócio, o sertanejo e a política de direita (e extrema direita) se tornou evidente e lucrativa. Artistas influentes do Agronejo e do sertanejo mais tradicional foram figuras proeminentes no apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro, propagando ideais conservadores e mensagens alinhadas à pauta governamental da época.

Gusttavo Lima, por exemplo, conhecido como “Embaixador do Agronegócio”, é um dos casos mais notáveis. Ele não só recebeu cachês milionários de cidades com baixo orçamento para shows, como também usou sua plataforma para endossar o discurso bolsonarista de “Deus, Pátria e Família”, e para atacar ideologias opostas, como o “comunismo”. A proximidade com o ex-governo garantiu a ele e a outros artistas do gênero visibilidade e, em muitos casos, verbas públicas.

A indústria do Agronejo, com sua estética e mensagens, tornou-se um reflexo e um impulsionador de uma visão de Brasil que valoriza o campo produtivo, o individualismo e, muitas vezes, adota posições político-ideológicas conservadoras. A capacidade de atingir milhões de pessoas através de plataformas digitais e eventos massivos fez do Agronejo não apenas um fenômeno musical, mas uma ferramenta cultural e política poderosa.


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