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Violência Política de Gênero: Quem se Beneficia ao Bloquear a Participação Feminina no Brasil?

A violência política de gênero no Brasil é um fenômeno complexo e multifacetado, que vai muito além das agressões físicas e verbais. Ela se manifesta de diversas formas – simbólica, institucional, psicológica – e tem um objetivo claro: bloquear a participação real e efetiva das mulheres nos espaços de poder. A quem interessa essa exclusão? A resposta aponta para a manutenção de estruturas de poder patriarcais e para a resistência a uma distribuição mais equitativa de influência e decisão.

Apesar de representarem mais da metade da população e do eleitorado brasileiro, as mulheres ainda estão drasticamente sub-representadas em todos os níveis de poder. Dados da União Interparlamentar mostram que a média mundial de mulheres nos parlamentos é de 26,4%, enquanto no Brasil esse número mal chega a 18%, colocando o país na 146ª posição entre 193 nações. Essa disparidade não é mera coincidência, mas o resultado de um sistema que, consciente ou inconscientemente, resiste à plena inclusão feminina.

As Múltiplas Faces da Violência Política de Gênero

A violência política contra a mulher não é apenas o ataque direto. Ela se manifesta de várias maneiras, visando a deslegitimar, desmotivar e, em última instância, excluir as mulheres da esfera pública:

  • Violência Simbólica e Misoginia: Ataques que mobilizam estereótipos de gênero, diminuindo a capacidade intelectual ou moral da mulher. Frases como “ela é gorda, ela é Peppa, ela é porca”, relatadas por deputadas, evidenciam a misoginia que tenta ridicularizar e desqualificar. A ideia de que “a mulher merece respeito, a ministra não”, expressa em debates, reforça a tentativa de separar a pessoa do cargo para justificar o desrespeito.
  • Violência Institucional: Dificuldade de acesso a recursos de campanha, falta de apoio partidário, interrupções constantes em falas públicas, desconsideração de propostas, e a ausência de suporte para mães em cargos políticos.
  • Violência Psicológica: Ameaças (por e-mail, carta), assédio, e a pressão constante que leva muitas mulheres a desenvolverem problemas de saúde mental e, em alguns casos, a abandonarem a vida política.
  • Violência Física e Atentados: Em casos extremos, a violência culmina em ataques físicos e até assassinatos, como o emblemático caso de Marielle Franco, que evidenciam o risco que mulheres correm ao ousar ocupar espaços de poder.

A Quem Interessa o Bloqueio?

A exclusão da mulher da política interessa a todos que se beneficiam da manutenção de um status quo onde o poder é concentrado em mãos masculinas. Isso inclui:

  • Estruturas Partidárias Tradicionais: Muitos partidos ainda não estão preparados para lidar com a diversidade e tendem a priorizar candidaturas masculinas, mesmo diante das cotas de gênero. Há uma desconfiança generalizada em relação às candidaturas femininas e um “descaso intencional” que reforça a ideia de “falta de ambição política” das mulheres.
  • Grupos com Interesses Estabelecidos: A entrada de mulheres com novas perspectivas e agendas pode desafiar os interesses de grupos já consolidados no poder, que se beneficiam de uma política que não prioriza questões de gênero, inclusão e direitos humanos.
  • Mentalidades Patriarcais: A violência política de gênero tem raízes profundas em uma cultura patriarcal que historicamente subordina a mulher e a associa apenas ao espaço privado. Essa mentalidade vê a mulher na política como uma ameaça à ordem estabelecida, gerando resistência e agressividade.
  • Cenários de Polarização e Desinformação: Em contextos de alta polarização, a desinformação é frequentemente utilizada para atacar candidatas e mulheres eleitas, minando sua credibilidade e dificultando sua atuação. A misoginia se torna uma ferramenta eficaz para desqualificar a mulher que ousa se posicionar.

As Consequências para a Democracia

O bloqueio à participação feminina na política não afeta apenas as mulheres individualmente; ele empobrece a própria democracia. Sem a voz e a experiência de metade da população, as políticas públicas se tornam menos inclusivas e eficazes. A democracia perde em representatividade, legitimidade e capacidade de responder às reais necessidades da sociedade.

A luta contra a violência política de gênero é, portanto, uma luta pela democracia em si. Reconhecer, combater e punir esses abusos é essencial para que o Brasil avance rumo a uma política mais justa, equitativa e, verdadeiramente, representativa de sua população. A Lei de Combate à Violência Política contra a Mulher (Lei nº 14.192/2021) é um passo importante, mas a sua efetividade depende da conscientização, da denúncia e de um compromisso coletivo em mudar a cultura política do país.

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