A Polícia Federal (PF) detalhou, em nova etapa da investigação sobre a fraude bilionária no INSS, a existência de três núcleos de comando que sustentavam a estrutura criminosa responsável por descontos ilegais em aposentadorias e pensões em todo o país. O esquema, segundo as apurações, operou entre 2019 e 2024 e pode ter atingido mais de 4 milhões de beneficiários.
Três chefes e a engrenagem da fraude
De acordo com os investigadores, o esquema se dividia em núcleo de comando, núcleo financeiro e núcleo político-institucional, cada um liderado por figuras consideradas centrais na operação.
1. Núcleo de comando
A PF aponta Carlos Roberto Ferreira Lopes, presidente da Conafer, como o principal articulador. Ele teria direcionado equipes para captar assinaturas e criar filiações fictícias de aposentados a associações, o que permitia descontos indevidos diretamente no benefício do INSS.
O irmão dele, Tiago Lopes, também é citado como peça-chave, por ter acesso operacional ao sistema de folhas do INSS, o que teria facilitado a inserção das cobranças fraudulentas.
2. Núcleo financeiro
No setor financeiro do esquema, a PF identifica Cícero Marcelino de Souza Santos como responsável por movimentar os valores desviados por meio de empresas de fachada.
Outro nome citado é Vinícius Ramos da Cruz, dirigente do Instituto Terra e Trabalho (ITT), suspeito de distribuir parte dos recursos e repasses ilegais a políticos e operadores do esquema.
3. Núcleo político-institucional
A investigação também aponta Alessandro Stefanutto, ex-presidente do INSS, e Virgílio Antônio Filho, ex-procurador da autarquia, como figuras estratégicas dentro da estrutura. Ambos teriam contribuído para a manutenção dos convênios irregulares usados para aplicar os descontos.
A PF afirma ainda que o deputado federal Euclydes Petersen teria atuado para proteger institucionalmente as entidades envolvidas, ajudando a manter os acordos que sustentavam o esquema.
Bloqueios bilionários e desdobramentos
A operação resultou em decisões judiciais que determinaram o bloqueio de mais de R$2,8 bilhões em bens e ativos de investigados, incluindo dirigentes de associações e operadores financeiros. Os valores servirão para garantir o ressarcimento dos beneficiários prejudicados, previsto para ocorrer em parcela única até o fim deste ano, segundo a AGU.
Além disso, dezenas de mandados de busca e apreensão foram cumpridos, e servidores da Previdência foram afastados por suspeita de participação direta ou omissão na fiscalização dos convênios.
Escândalo atinge a estrutura da Previdência
O caso já é considerado uma das maiores fraudes contra a Previdência Social. A operação revelou uma estrutura altamente organizada, com coordenação entre dirigentes de associações, operadores financeiros e agentes públicos, o que preocupa especialistas pela profundidade das falhas no sistema de controle do INSS.
As investigações seguem em curso, e novos indiciamentos não estão descartados.