A Polícia Federal identificou um esquema de atuação conjunta entre o ex-deputado estadual TH Joias, o presidente afastado da Alerj, Rodrigo Bacellar, e integrantes do Comando Vermelho (CV), segundo decisões judiciais e trechos da investigação que embasaram a Operação Unha e Carne, deflagrada nesta semana no Rio de Janeiro. Para a PF, o grupo operava para proteger interesses da facção, interferir em investigações e garantir acesso a informações sigilosas.
As conclusões aparecem em relatórios que detalham trocas de mensagens, registros de monitoramento e movimentações suspeitas antes e durante a Operação Zargun, deflagrada em setembro, quando TH Joias foi preso por integrar um braço político e logístico da maior facção criminosa do estado.
Contatos frequentes e alerta antecipado
De acordo com a PF, TH Joias mantinha Bacellar em sua lista de contatos prioritários, classificado como “01”. Os investigadores afirmam que o presidente da Alerj recebeu mensagens do ex-deputado na véspera da operação que o prendeu, incluindo orientações sobre troca de celular e possível retirada de objetos da residência, ações interpretadas como tentativa de driblar o rastreamento policial.
No dia da operação, TH Joias teria enviado a Bacellar uma imagem das câmeras internas do imóvel, mostrando agentes da PF dentro da casa. As mensagens reforçaram, segundo os investigadores, a proximidade entre ambos e a suspeita de vazamento de informações.
Infiltração política e apoio ao CV
A PF afirma que TH Joias atuava como elo político do Comando Vermelho, usando o mandato para facilitar negociações de armas, drogas e equipamentos. A investigação aponta que a facção buscava expandir sua influência para dentro de estruturas institucionais, em especial no Legislativo fluminense, com o objetivo de obter proteção, apoio logístico e blindagem em ações de inteligência.
Documentos da operação indicam que a organização criminosa contava com apoio de agentes públicos para antecipar ações policiais, interferir em procedimentos e garantir vantagem operacional em áreas controladas pelo tráfico.
Prisão de Bacellar e afastamento da Alerj
O Supremo Tribunal Federal decretou a prisão preventiva do presidente da Alerj após entender que havia risco de destruição de provas e de interferência nas investigações. A decisão também o afastou do cargo.
Durante a operação, a PF apreendeu celulares e quantias em dinheiro com Bacellar. Os investigadores afirmam que o conjunto de provas indica tentativa de obstrução da Justiça em favor do ex-deputado preso e do grupo criminoso.
A defesa de Rodrigo Bacellar ainda não se manifestou publicamente sobre as acusações. Representantes de TH Joias também não comentaram os novos trechos da investigação.
A Polícia Federal deve entregar novos relatórios ao STF nas próximas semanas. O caso pode gerar desdobramentos adicionais no Legislativo fluminense, já que outras autoridades mencionadas nas mensagens interceptadas podem entrar na mira da investigação.
O processo segue sob sigilo.