Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira (12) pela Genial/Quaest mostra que a maioria dos brasileiros aprova a megaoperação policial realizada no fim de outubro nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, mas há resistência quanto à repetição de ações semelhantes em outras regiões do país. O levantamento, feito entre os dias 6 e 9 de novembro, ouviu 2.004 pessoas em 120 municípios e revela o impacto nacional da operação, que terminou com 121 mortos, segundo dados preliminares.
De acordo com a sondagem, 67% dos entrevistados disseram aprovar a operação, enquanto 28% a reprovaram e 5% não souberam responder. O mesmo percentual, 67%, afirmou que não houve exagero no uso da força policial durante a ação. Por outro lado, 55% dos brasileiros afirmaram que não gostariam de ver uma operação do mesmo tipo ocorrendo em seu estado, o que demonstra uma percepção de apoio à distância, mas cautela quando a situação se aproxima da realidade local.
A operação, realizada em 28 de outubro, envolveu policiais civis, militares e forças federais no combate a organizações criminosas que atuam nas comunidades da zona norte carioca. As forças de segurança afirmam que a ação teve como objetivo desarticular grupos ligados ao tráfico de armas e drogas, além de impedir a expansão territorial de facções. No entanto, a operação foi criticada por entidades de direitos humanos, que alegaram falta de transparência e uso desproporcional da força, resultando em um número elevado de mortes e impactos humanitários nas comunidades afetadas.
Segurança volta ao centro do debate nacional
Além da aprovação da operação, a pesquisa aponta uma mudança significativa na agenda de preocupações da população brasileira. A segurança pública ultrapassou a economia como o principal problema do país: 38% dos entrevistados citaram a violência como maior preocupação, contra 15% que mencionaram a economia. Essa é a primeira vez em 2025 que o tema da segurança aparece em primeiro lugar no levantamento da Quaest.
Para o cientista político e diretor da Quaest, Felipe Nunes, o resultado indica que “o brasileiro está cada vez mais sensível ao tema da segurança e tende a apoiar medidas consideradas firmes, mesmo quando há riscos de violações de direitos”. Ele observa, contudo, que a resistência à repetição do modelo em outros estados mostra que o apoio é condicionado e não absoluto.
Reflexos políticos
O levantamento também mostrou reflexos diretos na avaliação do governo federal. Segundo a Quaest, a aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que vinha em recuperação nos últimos meses, ficou estagnada após o episódio. A operação reacendeu o debate sobre o papel do governo federal nas políticas de segurança pública e a relação com governos estaduais em ações de grande escala.
Nos bastidores políticos, aliados do Planalto admitem preocupação com o avanço do tema da segurança na opinião pública, já que a percepção de insegurança tende a favorecer discursos mais duros e linhas de ação de caráter repressivo, frequentemente associados a opositores do governo.
Opinião pública dividida
A pesquisa evidencia um paradoxo: embora a maioria da população apoie a ação no Rio, há uma rejeição expressiva à ideia de replicar operações de mesmo porte em outros contextos. Especialistas avaliam que isso reflete tanto o medo de violência urbana quanto o reconhecimento dos riscos que essas ações trazem às populações civis.
Outro dado relevante é que 88% dos entrevistados disseram apoiar o aumento das penas para crimes cometidos por facções criminosas, reforçando a demanda por políticas de endurecimento penal. Ainda assim, 49% dos entrevistados concordam que o governo precisa “combater o crime com inteligência e políticas sociais”, enquanto 45% defendem “ações mais duras e imediatas”, mostrando que o país segue dividido entre a ênfase na repressão e na prevenção.
Margem de erro e metodologia
A pesquisa Genial/Quaest foi realizada presencialmente entre 6 e 9 de novembro de 2025, com 2.004 entrevistados em 120 municípios brasileiros. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%.
A sondagem revela que o tema da segurança pública voltou ao topo das preocupações nacionais, com forte influência sobre o debate político e eleitoral. O apoio expressivo à operação no Rio de Janeiro, ainda que acompanhado de cautela, sinaliza uma tendência de parte da sociedade em aceitar ações mais firmes do Estado contra o crime organizado, desde que acompanhadas de responsabilidade e respeito aos direitos humanos um equilíbrio que deve guiar as próximas decisões de governos em todo o país.