O governo brasileiro confirmou na segunda-feira (28) que as negociações entre Brasil e Estados Unidos entraram em uma nova e decisiva fase, após o encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente norte-americano Donald Trump, realizado no último sábado (26), em Kuala Lumpur, na Malásia, durante a cúpula da ASEAN.
De acordo com declarações de Lula, Trump teria garantido pessoalmente que um acordo comercial entre os dois países será fechado “em poucos dias”, abrindo espaço para a retomada das relações econômicas após meses de impasse. O diálogo busca reverter as tarifas de até 50% impostas pelos EUA sobre produtos brasileiros, que afetam principalmente o agronegócio, a siderurgia e a indústria de base.
Reunião positiva e início das tratativas imediatas
Fontes da diplomacia brasileira classificaram a conversa entre os líderes como “cordial e objetiva”. Lula e Trump acertaram que as equipes técnicas dos dois governos começarão reuniões imediatas para discutir temas prioritários como comércio, energia, meio ambiente e tecnologia.
Segundo o Itamaraty, o Brasil apresentou uma proposta para suspender temporariamente as sobretaxas durante o processo de negociação. Em contrapartida, os EUA exigem um plano de monitoramento e transparência sobre subsídios e políticas ambientais aplicadas no Brasil.
O que está em jogo
O principal objetivo brasileiro é reverter as tarifas que reduziram em até US$3 bilhões o volume de exportações ao mercado norte-americano em 2024. Já os EUA buscam garantias sobre a estabilidade regulatória e o fortalecimento de parcerias em energia renovável e tecnologia da informação, incluindo a instalação de data centers norte-americanos no Brasil.
As tratativas devem resultar em um memorando de entendimento (MoU) que será assinado até o início de novembro, segundo fontes ligadas ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O documento deve traçar o cronograma para revisão tarifária e novas políticas de incentivo ao comércio bilateral.
Cautela e desafios
Apesar do tom otimista, Trump adotou uma postura mais cautelosa ao ser questionado pela imprensa. “Temos boas conversas, vamos ver o que acontece”, declarou o presidente norte-americano. Especialistas lembram que o tema ainda depende da aprovação de setores industriais e agrícolas dos EUA, que resistem à redução das tarifas sem contrapartidas.
Para o Brasil, o sucesso das conversas também dependerá da agilidade em aprovar medidas internas que tornem o país mais atrativo a investidores. A regulamentação de centros de dados e a revisão de normas ambientais estão entre os pontos mais sensíveis.
Possíveis impactos
Caso o acordo avance, o governo brasileiro estima que o país poderá recuperar até US$3 bilhões em exportações já em 2026, além de ampliar investimentos em infraestrutura digital e energia limpa. O entendimento ainda reforçaria a posição do Brasil como principal parceiro comercial dos EUA na América Latina, em um momento de reconfiguração geopolítica global.