O cenário político brasileiro foi abalado nesta quarta-feira, 21 de maio de 2025, com o depoimento do ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), Tenente-Brigadeiro Carlos Almeida Baptista Júnior, ao Supremo Tribunal Federal (STF). Em sua oitiva, Baptista Júnior confirmou que o então comandante do Exército, General Freire Gomes, alertou o ex-presidente Jair Bolsonaro sobre a possibilidade de prisão caso o plano de golpe de Estado fosse levado adiante.
A declaração de Baptista Júnior, prestada no âmbito da ação penal que investiga a suposta tentativa de golpe de Estado, contradiz parcialmente o depoimento do próprio Freire Gomes, que, em sua oitiva na última segunda-feira (19), negou ter dado uma “voz de prisão” diretamente a Bolsonaro.
No entanto, Baptista Júnior reafirmou sua versão, já apresentada à Polícia Federal (PF), detalhando a conversa entre os dois generais e o ex-presidente:
“Confirmo [a ameaça], sim, senhor. Acompanhei anteontem a repercussão [do depoimento de Freire Gomes]. Estava chegando de viagem. Freire Gomes é uma pessoa polida, educada, não falou com agressividade, ele não faria isso. Mas é isso que ele falou. Com muita tranquilidade, calma, mas colocou exatamente isso. ‘Se fizer isso, vou ter que te prender'”, afirmou Baptista Júnior no STF.
Segundo o ex-comandante da FAB, essa fala de Freire Gomes teria ocorrido em uma reunião no Palácio da Alvorada, em novembro de 2022, após o segundo turno das eleições presidenciais, quando os comandantes das Forças Armadas e o então presidente discutiam a “análise de conjuntura” do país.
Outros Pontos do Depoimento:
- Marinha e “Troopas à Disposição”: Baptista Júnior também relatou que o então comandante da Marinha, Almirante Almir Garnier Santos, teria dito em uma das reuniões que “as tropas da Marinha estariam à disposição do presidente”. Essa fala também é alvo de investigações.
- Proposta de Prisão de Moraes: O ex-comandante da FAB mencionou que, em um “brainstorming” anterior a uma das reuniões, surgiu a hipótese de prender o ministro Alexandre de Moraes, do STF. No entanto, ele ressaltou que a ideia não foi adiante devido a questionamentos sobre a legalidade e as consequências de tal ato.
- Ausência de Fraudes nas Urnas: Baptista Júnior reiterou que havia alertado Bolsonaro sobre a ausência de evidências de fraudes nas urnas eletrônicas, contrariando o discurso do então presidente.
- Falta de Unanimidade nas Forças Armadas: Para Baptista Júnior, o plano golpista não foi levado adiante porque não houve a participação unânime das Forças Armadas. Ele afirmou que a FAB não apoiaria qualquer ruptura.
O depoimento de Baptista Júnior é considerado um marco na investigação, fortalecendo a tese da acusação e gerando apreensão nos citados no plano golpista, incluindo a defesa de Bolsonaro. As audiências de testemunhas de defesa, incluindo as indicadas pelo ex-ajudante de ordens Mauro Cid, estão programadas para os próximos dias, prometendo novos desdobramentos neste caso de grande repercussão política e judicial.