Um momento de rara tensão e ironia marcou o interrogatório do general Walter Braga Netto (PL) nesta terça-feira (10 de junho de 2025) no Supremo Tribunal Federal (STF). Em meio a perguntas protocolares do ministro Alexandre de Moraes, relator da investigação sobre a tentativa de golpe de Estado, Braga Netto afirmou estar preso, e Moraes prontamente rebateu, lembrando ser ele o autor da ordem de prisão.
O diálogo ocorreu no início do depoimento de Braga Netto, que é um dos oito réus apontados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) como integrantes do “núcleo central” da trama golpista. Moraes questionava o ex-ministro da Defesa e da Casa Civil se ele já havia sido preso ou processado alguma vez, uma pergunta de praxe em interrogatórios.
A resposta de Braga Netto, que participava da audiência por videoconferência diretamente do presídio militar no Rio de Janeiro, onde está detido preventivamente desde dezembro de 2024, surpreendeu pela franqueza:
— O senhor já foi preso ou processado alguma vez? — perguntou Moraes. — Eu estou preso, presidente — respondeu Braga Netto. — Fora essa vez — retrucou Moraes. O general negou, balançando a cabeça: — Fora essa vez, não, senhor. Moraes então concluiu, com tom de ironia: — Eu sei que o senhor está preso, eu que decretei.
A Prisão e o Contexto do Interrogatório
Walter Braga Netto foi preso em dezembro de 2024 sob a acusação de tentar obstruir as investigações da Polícia Federal relacionadas à tentativa de golpe de Estado. A prisão preventiva foi solicitada após indícios de que o general teria atuado para obter informações sobre a delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, que também é réu na mesma ação.
O depoimento de Braga Netto foi o último a ser colhido nesta fase de instrução do inquérito que apura a atuação de militares e civis em suposto plano para reverter o resultado das eleições de 2022 e impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao longo de sua fala, o general negou categoricamente ter participado de qualquer plano de golpe de Estado ou de estado de sítio.
Ele também refutou acusações de ter repassado dinheiro em uma caixa de vinho a Mauro Cid para financiar acampamentos bolsonaristas, e negou ter mandado “sentar o pau” em chefes militares que não aderiram às pressões. Braga Netto alegou que mensagens e conversas citadas pela acusação estariam “fora de contexto” e “descontextualizadas”.
Implicações Políticas e Jurídicas
O embate direto entre Moraes e Braga Netto sublinha a alta tensão que permeia as investigações sobre a tentativa de golpe. A postura firme de Moraes, que tem sido alvo constante de críticas de apoiadores do ex-presidente Bolsonaro, reforça a condução rigorosa do inquérito.
A defesa de Braga Netto protocolou ainda nesta terça-feira um pedido ao STF para que a prisão preventiva do general seja revogada, argumentando que a medida não se justifica após o encerramento da fase de interrogatórios. A decisão sobre a soltura do general, no entanto, caberá ao ministro Alexandre de Moraes, que segue com a análise do vasto material probatório colhido na investigação.