A venda de ingressos para shows realizados no estádio Morumbis, na zona sul de São Paulo, tornou-se alvo de investigação interna e pressão por apuração externa após a divulgação de áudios e documentos que indicam um suposto esquema de comercialização irregular envolvendo pessoas ligadas à administração do São Paulo Futebol Clube.
As denúncias vieram à tona após a circulação de gravações atribuídas a Douglas Schwartzmann, diretor adjunto das categorias de base do clube, nas quais ele menciona a participação dele e de Mara Casares, diretora cultural e de eventos do São Paulo e ex-esposa do presidente Julio Casares, na venda de ingressos de camarotes durante shows realizados no estádio. Um dos eventos citados é o show da cantora Shakira, ocorrido neste ano.
De acordo com o material divulgado, ingressos de um camarote específico do Morumbis teriam sido utilizados para revenda, com valores acima dos praticados oficialmente, o que levantou suspeitas de lucro indevido e favorecimento. Os áudios também citam o nome do superintendente do clube, Márcio Carlomagno, que teria autorizado o repasse do espaço, e de Rita de Cássia Adriana Prado, apontada como responsável pela gestão e comercialização dos ingressos.
Além das gravações, o caso envolve uma disputa judicial entre empresas do setor de eventos por conta do desaparecimento de dezenas de ingressos no dia de um dos shows, com prejuízo estimado em mais de R$ 100 mil, segundo documentos anexados ao processo. O episódio reforçou as suspeitas de falhas no controle interno e na destinação das entradas.
Diante da repercussão, Douglas Schwartzmann e Mara Casares solicitaram licença de seus cargos, enquanto conselheiros do clube cobram a abertura de uma apuração rigorosa para esclarecer os fatos e identificar eventuais responsabilidades. Internamente, o caso gerou desgaste político e aumentou a pressão sobre a gestão de Julio Casares, que ainda não se manifestou publicamente sobre as acusações.
Procurados, os citados no material divulgado não haviam apresentado posicionamento oficial até a última atualização desta reportagem. O São Paulo FC informou, de forma preliminar, que acompanha o caso e avalia medidas administrativas.
O escândalo ocorre em um momento de forte exploração comercial do Morumbis como arena de grandes eventos, com contratos milionários firmados para a realização de shows nacionais e internacionais. As denúncias também chamaram a atenção de órgãos de defesa do consumidor, que avaliam se o caso pode configurar prática abusiva ou irregularidades na venda de ingressos, com possível encaminhamento ao Ministério Público.
Enquanto as investigações avançam, o episódio reacende o debate sobre transparência, fiscalização e governança na gestão de grandes arenas esportivas usadas para entretenimento no Brasil.