O primeiro dia da COP30, conferência do clima da ONU realizada em Belém (PA), foi marcado por discursos de união e apelos à ação, mas também por tensões em torno do financiamento climático e da transição energética. A abertura oficial, na segunda-feira (10), consolidou o Brasil como anfitrião de uma das edições mais simbólicas do evento, sediada pela primeira vez na Amazônia.
O diplomata brasileiro André Corrêa do Lago assumiu a presidência da conferência com a promessa de fazer desta a “COP da verdade”, destacando a urgência em transformar compromissos em resultados concretos. Diferente de anos anteriores, o plano de trabalho foi aprovado rapidamente, sem impasses prolongados entre delegações, um sinal de consenso mínimo em torno da agenda de negociações.
Entre os principais anúncios do dia, destacou-se o lançamento de um pacote de investimentos de cerca de US$2,8 bilhões voltado a pequenos agricultores em regiões vulneráveis, iniciativa apoiada pelo Brasil, Emirados Árabes e pela Fundação Bill & Melinda Gates. Também ganhou destaque um modelo de inteligência artificial open source para a agricultura sustentável, que pretende alcançar até 100 milhões de produtores até 2028.
Bancos multilaterais de desenvolvimento divulgaram ainda a duplicação dos recursos destinados à adaptação climática, com US$26 bilhões investidos em 2024. Apesar desses avanços, países em desenvolvimento cobraram metas mais claras e prazos definidos para o financiamento climático, especialmente no fundo de “perdas e danos”, criado para compensar nações afetadas por eventos extremos.
A ausência de representantes dos Estados Unidos e a resistência de alguns países em discutir cortes drásticos no uso de combustíveis fósseis também chamaram atenção. O relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), apresentado no encontro, reforçou o alerta: 2025 deve ser um dos três anos mais quentes da história, com níveis recordes de gases de efeito estufa.
O que é esperado para hoje
O segundo dia da COP30 deve ser dominado por discussões sobre proteção das florestas tropicais, financiamento climático e transição energética. Com o evento sediado na Amazônia, a expectativa é que líderes reforcem compromissos de preservação e restauração de ecossistemas, além de ampliar o apoio a povos indígenas e comunidades locais.
Outro ponto central será a operacionalização do fundo de perdas e danos, cuja efetividade depende de novas contribuições de países ricos. Também estão previstos painéis voltados à inovação tecnológica e ao papel da IA na mitigação das mudanças climáticas, área em que o Brasil tenta se posicionar como articulador.
O governo brasileiro aposta que a simbologia de sediar a COP30 em Belém ajude a impulsionar um pacto global mais ambicioso. Entretanto, o sucesso do evento dependerá menos dos discursos e mais da capacidade das nações de transformar promessas em ações concretas nas próximas rodadas de negociação.