Pode parecer uma ideia de outro universo, mas a ascensão meteórica dos animes está sendo apontada como um dos fatores por trás da queda de audiência dos esportes mais populares nos Estados Unidos. Longe de ser uma “loucura”, essa percepção ganha força à medida que as novas gerações, especialmente a Geração Z, migram da tela da TV para as plataformas de streaming, onde narrativas envolventes e universos fantásticos competem — e muitas vezes vencem — o apelo de um jogo de futebol americano ou basquete.
A Mudança de Hábito da Geração Z: Do Estádio à Aldeia da Folha
A Geração Z (nascidos a partir de meados dos anos 90) e, em parte, os Millennials, cresceram imersos em um mundo digital. Para eles, o consumo de conteúdo é sinônimo de sob demanda, personalização e ritmo acelerado. Pesquisas recentes dão pistas claras dessa mudança:
- Preferência Declarada: Levantamentos de empresas como Crunchyroll (plataforma de streaming de animes) e Polygon (site de cultura pop) indicam que uma parcela significativa da Geração Z nos EUA assiste a animes semanalmente. Um estudo de 2022 apontou que 44% dos jovens entre 18 e 24 anos assistem a animes populares, e para muitos, o anime é mais popular do que a NFL (liga de futebol americano). Outra pesquisa de 2024 da Polygon reiterou que 42% da Geração Z assiste anime semanalmente, contra apenas 25% que acompanha a NFL.
- Engajamento Emocional: Fãs de anime frequentemente relatam uma conexão emocional mais profunda com os personagens e tramas, algo que nem sempre encontram em transmissões esportivas.
- Acessibilidade e Custo: Animes estão amplamente disponíveis em plataformas de streaming com assinaturas acessíveis. Já assistir a esportes nos EUA, de forma legal, pode ser caro e complicado, exigindo pacotes de TV a cabo ou assinaturas de ligas que a Geração Z, avessa à TV tradicional, não está disposta a pagar.
A Batalha Pelo Tempo e Atenção: Por Que Animes Levam Vantagem?
A natureza do conteúdo também joga a favor dos animes:
- Narrativas Cativantes: Animes oferecem histórias complexas, desenvolvimento aprofundado de personagens e universos expansivos que podem prender a atenção por centenas de episódios.
- Ritmo Diferente: Enquanto jogos de esportes tradicionais, especialmente o futebol americano, têm muitos intervalos e tempo parado (um jogo de 3 horas pode ter apenas 15-20 minutos de ação real), os animes mantêm um ritmo dinâmico que agrada a uma geração acostumada à agilidade da internet.
- Diversidade de Gêneros: A vasta gama de gêneros e estilos no anime atrai um público muito mais amplo e diversificado do que as ligas esportivas que, por vezes, são vistas como menos inclusivas ou com foco em um tipo específico de público.
- Integração na Cultura Pop: Animes não são mais um nicho. Colaborações com grandes marcas, celebridades e até equipes esportivas (como o Texas Rangers com “Jujutsu Kaisen”) mostram como o anime se tornou parte integrante da cultura pop mainstream.
Animes São o Único Motivo? Longe Disso!
É crucial ressaltar que a queda na audiência dos esportes nos EUA é um fenômeno multifacetado. Os animes são um fator contribuinte significativo, mas não o único. Outras razões incluem:
- Fragmentação da Mídia: A atenção do público está dividida entre um número cada vez maior de opções de entretenimento, como jogos, e-sports, outras séries de streaming e redes sociais.
- Custos de Assinatura: O alto custo para acessar legalmente jogos ao vivo é um impedimento.
- Mudanças nos Esportes: Alterações nas regras ou no estilo de jogo (como o “load management” na NBA, onde jogadores importantes são poupados) podem diminuir o apelo.
- Preferência por Highlights: As novas gerações preferem assistir a “melhores momentos” ou “highlights” em plataformas como YouTube e TikTok, em vez do jogo completo.
- Envelhecimento do Público: As gerações mais velhas, que tradicionalmente acompanhavam os esportes, estão envelhecendo, e as ligas não conseguem atrair novos telespectadores na mesma proporção.
Em suma, a “loucura” de que animes impactam a audiência esportiva tem um fundo de verdade sólido. Eles representam uma forte concorrência pelo tempo e atenção de um público jovem e altamente conectado. Para as ligas esportivas, o desafio é claro: adaptar-se aos novos hábitos de consumo e encontrar maneiras de se reconectar com as gerações que hoje preferem acompanhar as batalhas épicas de “Goku” ou “Luffy” às disputas nos campos e quadras.
Será que a solução para os esportes americanos passa por mais colaborações com animes ou por um formato de transmissão mais dinâmico?