A efetivação do “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos, com a iminente taxação de 50% sobre produtos brasileiros a partir de 1º de agosto, coloca em xeque a durabilidade da “colheita eleitoral” que o governo Lula tem obtido ao se posicionar firmemente contra as medidas de Donald Trump. A questão central é: a polarização em torno de um inimigo externo pode render frutos eleitorais efêmeros ou criar uma base sólida de apoio para 2026?
A pesquisa Quaest já indicou que a postura de Lula em criticar Trump no BRICS, vista como “provocação” por 55% dos brasileiros, também tem 53% de aprovação pela sua reação ao “tarifaço”. Além disso, a aprovação geral do governo subiu. Isso demonstra que, em um primeiro momento, a narrativa do “nós contra eles” – o Brasil de Lula contra os EUA de Trump – tem funcionado.
O Potencial de Durabilidade:
- Nacionalismo e Soberania: A defesa da indústria e do agronegócio brasileiros, aliada a um discurso de soberania nacional, tende a ser um tema de apelo duradouro. Independentemente da ideologia, muitos brasileiros veem com bons olhos a proteção dos interesses do país. Se o governo conseguir mostrar ações concretas e eficazes para mitigar os impactos das tarifas, esse sentimento pode se solidificar.
- Lula como “Defensor”: O presidente tem habilidade comprovada em se posicionar como o defensor dos mais vulneráveis. No caso do tarifaço, ele se coloca como o guardião da economia brasileira. Se a percepção de que ele está protegendo empregos e setores econômicos importantes se mantiver, a colheita eleitoral pode ir além do momento da crise.
- Foco no “Inimigo Externo”: Enquanto houver uma ameaça externa clara, o governo pode manter o foco no “inimigo” em vez de em problemas internos. Isso ajuda a desviar a atenção de outras dificuldades e a manter a base unida em torno de um objetivo comum.
Os Riscos da Efemeridade:
- Impacto Econômico Real: A grande incógnita é o impacto real e a longo prazo das tarifas na economia brasileira. Embora o Ministério da Fazenda preveja um efeito “pouco significativo” no PIB, setores específicos como agronegócio (pescado, cítricos) e siderurgia já sentem os primeiros golpes. Se as demissões aumentarem ou se os preços para o consumidor subirem por conta de uma redução de exportações ou um aumento de importações (como retaliação), a narrativa governamental pode ruir rapidamente.
- Soluções Concretas vs. Retórica: A população espera mais do que um discurso firme. A efetividade das medidas de reciprocidade e a capacidade do governo de encontrar novos mercados ou mitigar as perdas serão cruciais. Se as ações não forem vistas como eficazes, o apoio pode se dissipar.
- Polarização Externa: O “tarifaço” também expõe as fissuras internas da política brasileira. O embate entre deputados sobre a culpa pelas tarifas e a recusa da Câmara em votar anistia sob pressão mostram que a unidade em torno do “inimigo externo” não é total. A oposição pode capitalizar sobre os prejuízos econômicos para deslegitimar a estratégia do governo.
- “Fadiga da Polarização”: Embora a polarização possa ser eleitoralmente vantajosa, o eleitor pode, em algum momento, desenvolver uma “fadiga” desse cenário de constante embate, buscando soluções mais pragmáticas e menos conflituosas.
Em suma, a “colheita eleitoral” do governo Lula diante do “tarifaço” de Trump é real no curto prazo, impulsionada pelo nacionalismo e pela imagem de um líder defendendo o país. No entanto, sua durabilidade dependerá diretamente da capacidade do governo de transformar a retórica em resultados econômicos tangíveis e de como os impactos reais das tarifas se manifestarão na vida dos brasileiros. Se o prejuízo for grande, a “onda” pode se dissipar rapidamente.