Passados dois anos e meio dos ataques golpistas às sedes dos Três Poderes em Brasília, a investigação sobre a tentativa de golpe de Estado atingiu nesta terça-feira (10 de junho de 2025) um de seus momentos mais cruciais: o depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF). A jornada de apuração, conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, revela uma intrincada teia de eventos, depoimentos e provas que buscam desvendar a autoria e a articulação de um plano para subverter a democracia brasileira.
Confira a linha do tempo que levou do caos de 8 de janeiro à fala de Bolsonaro no STF:
Janeiro de 2023: O Ataque e as Primeiras Reações
- 8 de janeiro de 2023: Milhares de apoiadores de Bolsonaro invadem e depredam o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o STF, em Brasília. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decreta intervenção federal na segurança do Distrito Federal.
- 9 de janeiro: Primeiras prisões em massa de manifestantes. Alexandre de Moraes abre o Inquérito 4.921 no STF para investigar os atos antidemocráticos.
- Janeiro/Fevereiro: Bolsonaro, que estava nos Estados Unidos desde 30 de dezembro de 2022, faz primeiras declarações, criticando os ataques mas sem condená-los veementemente no primeiro momento. A PF solicita sua oitiva em outro inquérito.
2023: Aprofundamento das Investigações e Revelações Chocantes
- Março/Abril: A PF inicia uma série de operações, cumprindo mandados de busca e apreensão e realizando quebras de sigilo. Primeiras figuras próximas a Bolsonaro começam a ser investigadas.
- Maio: A PF apreende celular do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. O conteúdo do aparelho se tornaria peça-chave da investigação.
- Junho/Julho: Vazamento de “minutas golpistas” encontradas em posse de aliados de Bolsonaro, incluindo uma que previa a decretação de estado de defesa e a intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
- Agosto: Mauro Cid fecha acordo de delação premiada com a PF. As informações de Cid começam a desvendar supostos planos de golpe e a envolver membros do alto escalão do governo Bolsonaro.
- Setembro/Dezembro: A investigação avança, explorando as informações da delação de Cid. Surgem detalhes sobre reuniões ministeriais onde supostas estratégias golpistas teriam sido discutidas.
Final de 2024: Intensificação da Pressão e Prisões de Figuras Chave
- Novembro: A imprensa divulga trechos de gravações de reuniões de Bolsonaro com seus ministros, onde são discutidas ações para desacreditar o sistema eleitoral e as instituições.
- Dezembro de 2024: A PF deflagra uma grande operação, e Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, é preso preventivamente. Outras figuras militares e civis, como Anderson Torres, também são alvo de prisões ou outras medidas cautelares. As prisões sinalizam que a investigação atinge o que a PGR classifica como o “núcleo central” da trama golpista.
2025: A Reta Final dos Interrogatórios Decisivos
- Fevereiro/Maio: Os oito réus apontados como “núcleo central” da tentativa de golpe começam a ser interrogados pelo STF, incluindo figuras como o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e o ex-comandante do Exército Freire Gomes.
- 10 de junho de 2025: Jair Bolsonaro presta depoimento ao STF. Ele comparece para o aguardado interrogatório e nega categoricamente qualquer participação em planos golpistas. Bolsonaro afirma que suas ações foram dentro dos limites da liberdade de expressão, que se distanciou dos atos de 8 de janeiro e que é alvo de perseguição política. O depoimento é marcado por um tenso embate com o ministro Alexandre de Moraes, no qual Braga Netto afirma estar preso e Moraes responde que ele próprio decretou a prisão.
O Papel de Alexandre de Moraes e os Próximos Passos
O ministro Alexandre de Moraes tem sido a figura central na condução de todo o processo, recebendo críticas e elogios pela firmeza em lidar com o que classifica como ataques à democracia.
Com o depoimento de Bolsonaro, a fase de coleta de provas e interrogatórios caminha para sua conclusão. Agora, o inquérito seguirá para a fase de análises da PGR, que deverá apresentar uma denúncia formal contra os envolvidos ou pedir novas diligências. Em seguida, caberá ao plenário do STF decidir se aceita a denúncia e transforma os investigados em réus, dando início a uma ação penal.
A trajetória do 8 de janeiro até o depoimento de Bolsonaro no STF é um reflexo da complexidade e da gravidade de um dos períodos mais conturbados da história recente do Brasil, com desdobramentos que prometem continuar definindo o cenário político e jurídico do país.