Às vésperas de celebrar seu bicentenário de independência, em 6 de agosto de 2025, a Bolívia se encontra em um turbilhão de instabilidade, mergulhada em uma profunda crise política e de identidade. O país andino, que se prepara para festejar dois séculos de existência, vê suas divisões internas e a disputa pelo poder minarem o espírito de união nacional.
A Divisão no Coração do MAS: Arce vs. Morales
A principal fonte da atual turbulência política boliviana reside na racha interna do próprio partido governista, o Movimento ao Socialismo (MAS). A disputa entre o atual presidente, Luis Arce, e seu antecessor e líder histórico do MAS, Evo Morales, tem paralisado o Congresso, gerado confrontos nas ruas e dificultado a governabilidade.
Morales, que busca uma nova candidatura presidencial, acusa Arce de perseguição política e de se afastar dos princípios do movimento. Arce, por sua vez, tenta consolidar sua própria base de poder e tem reagido às manobras de Morales, que frequentemente recorre a bloqueios de estradas e protestos organizados por seus apoiadores para pressionar o governo. Essa divisão no MAS não é apenas uma briga de líderes; ela reflete fissuras ideológicas e de poder dentro do próprio bloco que esteve no comando por quase duas décadas.
Crise de Identidade: Entre o Andino e o Estado Plurinacional
A Bolívia é uma nação multiétnica, com uma rica tapeçaria de culturas indígenas. A Constituição de 2009, promulgada durante o governo de Evo Morales, declarou o país como um “Estado Plurinacional”. No entanto, a crise atual tem exposto a fragilidade dessa construção de identidade:
- Tensões Regionais: As divisões entre as terras altas (Altiplano), predominantemente indígenas e base de apoio do MAS, e as terras baixas (Oriente), com forte presença agroindustrial e uma população mais mestiza e conservadora, ressurgem com força. Santa Cruz, a região mais rica, frequentemente exige maior autonomia e questiona a centralização do poder.
- Ameaça à Estabilidade Democrática: A incapacidade de consenso político tem se traduzido em instabilidade institucional. Bloqueios e protestos violentos têm sido frequentes, afetando a economia e a vida cotidiana dos bolivianos. A polarização crescente gera temores sobre a resiliência da democracia no país.
- Dilemas Econômicos: Embora a Bolívia tenha tido períodos de crescimento impulsionados pelos recursos naturais, a queda nos preços das commodities e a instabilidade política afetam a economia, gerando insatisfação social e agravando as divisões.
Bicentário Ofuscado
À medida que a data simbólica de 6 de agosto de 2025 se aproxima, o país se vê em um paradoxo. O bicentenário deveria ser um momento de celebração da unidade e das conquistas bolivianas. Em vez disso, é ofuscado por uma crise que desafia a própria ideia de nação, com a busca por uma identidade comum e a estabilidade política parecendo mais distantes do que nunca. O caminho para os próximos 200 anos da Bolívia dependerá da capacidade de seus líderes e de sua população de superar as profundas divisões que hoje os afligem.
