O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, e outros ex-diretores do órgão têm reiteradamente negado que as operações realizadas pela corporação durante o segundo turno das eleições de 2022 tiveram qualquer motivação ou intenção política, visando favorecer um candidato em detrimento de outro.
A Polêmica das Blitze no Nordeste
As ações da PRF no dia do segundo turno das eleições, em 30 de outubro de 2022, especialmente no Nordeste do Brasil, geraram forte controvérsia e acusações de que a corporação estaria buscando dificultar o acesso de eleitores às urnas em regiões onde o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha maior apoio. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), à época, chegou a determinar a suspensão imediata de operações que pudessem impactar o transporte público de eleitores.
As Negações e a Justificativa Oficial
Em depoimentos à Justiça e em comissões parlamentares, Silvinei Vasques e outros ex-diretores da PRF têm sustentado que as operações eram parte da rotina de fiscalização da instituição e visavam combater crimes eleitorais e garantir a segurança nas rodovias. Eles afirmam que a atuação da PRF obedeceu a critérios técnicos e que não houve bloqueio de rodovias com fins políticos.
Djairlon Henrique Moura, outro ex-diretor da PRF que depôs como testemunha de defesa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres no STF, também negou objetivos políticos nas operações. Segundo ele, o então ministro da Justiça teria pedido que as forças de segurança federais se empenhassem “o máximo possível” para evitar crimes eleitorais.
Contradições e Investigações
Apesar das negativas, a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público investigam as ações da PRF. A denúncia da Procuradoria-Geral da República ao STF incluiu as blitze da PRF como parte de uma suposta tentativa de golpe de Estado.
Relatórios da investigação da PF apontaram que as blitze teriam sido desproporcionais e concentradas em regiões onde Lula teve alta votação. Dados comparativos de efetivo e de veículos abordados em diferentes regiões do país foram apresentados para reforçar a tese de que houve direcionamento. Um servidor da PRF chegou a relatar ao STF que recebeu ordem para ações nas eleições de 2022. Além disso, a PF encontrou no celular de uma ex-assessora de Anderson Torres fotos com mapeamento de municípios com alta votação para Lula, o que reforça a suspeita de planejamento político nas operações.
Silvinei Vasques chegou a ser preso preventivamente no âmbito da Operação Constituição Cidadã, que apura a suposta interferência nas eleições. A senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora na CPMI do 8 de Janeiro, por exemplo, contestou os dados apresentados por Vasques, apontando contradições em sua defesa.
O Contexto da Trama Golpista
As operações da PRF estão sendo investigadas como parte de um contexto maior de uma suposta trama golpista, da qual diversos ex-integrantes do governo Bolsonaro são suspeitos de participação. A defesa dos ex-diretores da PRF, no entanto, continua a argumentar que as ações foram legítimas e desprovidas de intenção política. O caso segue em tramitação no Poder Judiciário, com a busca por esclarecer as responsabilidades e motivações por trás das operações da PRF no período eleitoral.