O futebol, paixão global e indústria multibilionária, enfrenta um grave problema ambiental: o descarte massivo de camisas de time. Estima-se que, anualmente, o Reino Unido descarte o equivalente a 500 milhões de camisas de futebol, gerando montanhas de lixo têxtil que impactam diretamente o planeta. Essa cifra alarmante corresponde a cerca de 951 camisas jogadas fora a cada minuto.
O Ciclo do Consumo e o Impacto Ambiental:
O problema é multifacetado e está intrinsecamente ligado ao modelo de negócio da indústria esportiva e ao comportamento do consumidor:
- Lançamentos Constantes: Clubes e fornecedores de material esportivo lançam novos uniformes a cada temporada, ou até mais de um modelo por ano, incentivando os torcedores a comprar sempre as últimas coleções. A durabilidade média de uma camisa de futebol é de apenas 10 meses, o que acelera o ciclo de consumo e descarte.
- Composição dos Materiais: A maioria dessas camisas é feita de poliéster, um material derivado do petróleo. Isso significa que elas não se degradam facilmente no meio ambiente e contribuem para a poluição plástica. A produção de uma única camisa de poliéster emite cerca de 5,5 kg de CO2, consome 2.700 litros de água e utiliza 0,5 kg de produtos químicos.
- Volume de Resíduos Têxteis: O Reino Unido, por exemplo, gera cerca de 100 mil toneladas de roupas esportivas descartadas anualmente, um número que ressalta a magnitude do problema. A nível global, a indústria da moda, da qual as roupas esportivas fazem parte, é uma das mais poluentes do planeta.
O Desafio e as Iniciativas:
Diante desse cenário, a pressão por práticas mais sustentáveis no futebol tem crescido. Organizações e campanhas, como a “Green Football”, buscam conscientizar e incentivar o reaproveitamento das peças. A preservação de uma camisa por mais nove meses, por exemplo, pode reduzir o estrago ambiental em até 30%.
Grandes marcas esportivas já começam a se mover em direção à sustentabilidade:
- Nike: Visa reduzir 70% das emissões de gases do efeito estufa até 2025.
- Adidas: Planeja que 10% do poliéster utilizado em seus produtos venha de resíduos têxteis até 2030. A marca também tem parcerias com startups como a Parley for the Oceans, que fabrica camisas a partir de garrafas plásticas recicladas.
- Puma: Informou que 90% de seus produtos em 2024 foram feitos com material reciclado ou certificado.
Além disso, startups estão explorando alternativas mais sustentáveis, como o uso de algodão orgânico, fibras biodegradáveis (como as feitas de casca de laranja) e modelos circulares que prolongam a vida útil das camisas.
Apesar do apelo de massa e da audiência global, o futebol ainda enfrenta dificuldades para lidar com seu impacto ambiental real. O modelo de negócio baseado em volume e crescimento contínuo, combinado com a cultura do descarte, exige uma reflexão urgente por parte de clubes, fabricantes e, principalmente, dos torcedores.