A tecnologia de mRNA, usada nas vacinas contra a COVID-19, está ganhando destaque em uma nova frente da medicina: o combate ao câncer. Pesquisas recentes, apresentadas durante o congresso europeu de oncologia (ESMO 2025), indicam que pacientes com câncer que receberam vacinas de mRNA, como as da Pfizer/BioNTech e Moderna, antes ou durante o tratamento apresentaram melhores respostas à imunoterapia.
De acordo com cientistas da Universidade do Texas e do Instituto Karolinska, a aplicação das vacinas parece “preparar” o sistema imunológico, tornando-o mais eficaz no reconhecimento e combate de células tumorais. Em alguns grupos de estudo, pacientes com câncer de pulmão e melanoma que haviam sido vacinados apresentaram uma sobrevida até 80% maior em comparação aos não vacinados.
Os resultados indicam que o mRNA pode funcionar como um “estimulante imunológico”, ajudando a transformar tumores considerados “frios” que normalmente não despertam resposta do sistema imune em tumores “quentes”, mais vulneráveis ao tratamento.
“É possível que a vacina gere um estado de alerta imunológico que potencialize o efeito da imunoterapia. É como se o corpo ficasse mais atento a qualquer célula anormal”, explicou o oncologista britânico Lennard Lee, pesquisador da Universidade de Oxford, em entrevista à Euronews Health.
Além das observações clínicas, laboratórios de ponta como BioNTech e Moderna já conduzem testes com vacinas de mRNA personalizadas contra o câncer, projetadas para ensinar o organismo a atacar mutações específicas do tumor de cada paciente. Em modelos animais, os resultados têm sido promissores com regressão de tumores e maior eficácia quando combinadas a imunoterapias.
No entanto, especialistas alertam que os dados atuais ainda são preliminares. “As descobertas são animadoras, mas não provam que a vacina contra COVID cause esse benefício diretamente. Precisamos de ensaios clínicos controlados para confirmar a relação”, afirmou a pesquisadora Jennifer Wargo, do MD Anderson Cancer Center, em Houston (EUA).
Os próximos passos incluem testes clínicos de fase III, previstos para iniciar em 2026, com o objetivo de avaliar se a aplicação de vacinas de mRNA pode se tornar parte integrante do tratamento padrão em pacientes com câncer avançado.