O Sistema Único de Saúde (SUS) está prestes a dar um salto histórico com a incorporação de tecnologias de inteligência artificial (IA), telemedicina e digitalização hospitalar inspiradas em modelos chineses.
Os acordos firmados durante a missão oficial do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, à China, na terça-feira (14), preveem não apenas transferência de tecnologia em medicamentos e insumos, mas também a implementação de hospitais inteligentes, análise de dados clínicos em larga escala e plataformas de diagnóstico com apoio de IA.
Cooperação tecnológica e produção nacional de medicamentos
O Brasil e a farmacêutica chinesa Gan & Lee assinaram um memorando de entendimento com a Fiocruz/Bio-Manguinhos para desenvolver e produzir insulina glargina, além de medicamentos para câncer, diabetes, obesidade e doenças autoimunes.
O acordo prevê transferência de tecnologia, com fabricação inicial no Ceará e progressiva nacionalização da produção.
A parceria inclui pesquisa conjunta em análogos do hormônio GLP-1, usados em medicamentos como o Ozempic, com o objetivo de reduzir custos e ampliar o acesso pelo SUS.
Essas inovações terão suporte de plataformas de IA preditiva, que analisarão dados de milhões de pacientes do SUS para estimar demanda, otimizar logística de medicamentos e antecipar riscos de desabastecimento.
Inteligência artificial no coração do novo SUS
Um dos principais marcos da parceria é o projeto de criação do Instituto Tecnológico de Medicina Inteligente (ITMI-Brasil) o primeiro hospital público inteligente do país, com base em IA, 5G e integração em tempo real entre unidades hospitalares.
Inspirado em experiências chinesas, o projeto terá:
UTIs conectadas por IA, capazes de monitorar sinais vitais e identificar riscos em tempo real, acionando automaticamente as equipes médicas;
Sistemas de triagem inteligente, que utilizam aprendizado de máquina para priorizar atendimentos de emergência conforme a gravidade clínica;
Ferramentas de diagnóstico por imagem com IA, já testadas na China, capazes de identificar câncer de pulmão, mama e lesões cerebrais com até 94% de precisão;
Análise de big data em saúde pública, cruzando informações anônimas do SUS para detectar surtos, prever demandas hospitalares e melhorar a gestão de recursos;
Assistentes virtuais de apoio clínico, que auxiliam médicos na interpretação de exames, prescrição de medicamentos e acompanhamento remoto de pacientes crônicos.
Segundo o Ministério da Saúde, o uso da IA deve reduzir o tempo de resposta em emergências em até oito vezes, além de diminuir filas e aumentar a precisão diagnóstica.
Hospital inteligente e conectividade 5G
Durante visita a Xangai, Padilha conheceu hospitais inteligentes que usam robôs assistenciais, prontuários totalmente digitais e centros de controle baseados em IA.
Essas tecnologias serão adaptadas para o contexto brasileiro com apoio técnico da Huawei Health, da Zhejiang Lab e do Banco dos BRICS, que financiará parte da infraestrutura.
O hospital inteligente brasileiro será instalado em São Paulo, no complexo do Hospital das Clínicas da USP, e deverá iniciar a fase de implantação em 2026.
Impactos esperados e próximos passos
Além de reduzir custos com importações e acelerar diagnósticos, a parceria com a China permitirá que o Brasil desenvolva sua cadeia nacional de biotecnologia e softwares de saúde, com potencial para gerar empregos qualificados e fortalecer a soberania sanitária.
Os eixos prioritários definidos entre Brasil e China incluem:
Fortalecimento da OMS e atuação coordenada nos BRICS e G20;
Criação de programas de formação em IA médica e gestão digital hospitalar;
Expansão de centros regionais de inovação em saúde conectados ao SUS.
Padilha destacou que a integração tecnológica é “um passo para democratizar o acesso à medicina de ponta no Brasil, garantindo eficiência, transparência e equidade no atendimento público”.